quinta-feira, 5 de maio de 2016

(isso não é um poema)



não é amor!

eu sei que não é amor
isso, entre a gente
pode ser qualquer coisa,
qualquer coisa
sobre carinho ou cuidado
mas não é amor

tem saudade

tem a falta
mas isso não é amor
-me conta seus planos?
-quero ir com você (penso)
mas isso não é amor

te falo sobre o meu passado

sinto o ciumes no teu silêncio
quase sinto a sua raiva
mas isso,
isso não é amor

as outras pessoas

os outros lugares 
nada é tão interessante quanto
o sofá da sua casa
-passaria a vida nele
mas isso
isso também não é amor

repito pra mim todos os dias

enquanto te olho
enquanto te beijo
enquanto suamos
-não é amor, não será amor, nunca foi amor.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

engole.

O amor é vago.
É vão. É areia que gruda na pele. É ressaca.
É um "fica por perto". É em vão.
O amor é um erro.
Mergulho. Mar bravo. Clichê. É cuidado.
É querer ir. É voltar. É certeza. É altar.
É abrir mão. É saliva. Suor.
O amor devora.
Mastiga.
Goza.
Engole.

domingo, 1 de junho de 2014

Bem no fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

 Paulo Leminski

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sobre o tempo

Todos os dias, assim que acordo, abro os olhos bem devagarinho, com cuidado, como quem abre um presente, que é pra eu não me assustar quando eu perceber que a minha vida toda se passou e eu nem percebi. Me olhar no espelho e ver traços no meu rosto que eu não sei como foram parar ali, bem no canto dos meus olhos, no meio da testa, ao redor da boca. Descobrir o fio de cabelo branco que destoa da cabeleira preta. Olhar ao redor, ver a casa vazia. Vazia de tudo, vazia de amor, vazia de café da manhã, vazia de tardes de domingo com a família, vazia de filhos, vazia de cachorro, vazia de amigos. Vazia de você. Vazia.

Todos os dias, assim que acordo, abro os olhos bem devagarinho, olho pra o lado, te vejo, fecho os olhos, me belisco, abro os olhos e te vejo; só pra ter certeza de que você ainda está ali. Só pra ter certeza que você, as rugas, os filhos, as tardes, o amor, o cachorro, ainda irão vir.

Todos os dias, assim que acordo, abro os olhos bem devagarinho, com medo, torcendo para que a vida não tenha passado. Torcendo pra você ainda estar ali.

Todos os dias, assim que acordo, abro os olhos bem devagarinho.

Hoje pela manhã, encontrei meu primeiro fio de cabelo branco, a vida passa.



domingo, 19 de maio de 2013

me entrego


Eu quero acreditar que tudo isso
hoje
agora
seja apenas pele/
 Cada tentativa frustrada
matando pouco à pouco esse amor
 e ainda resta tanto/
 Seu olhar por dentro de mim
sua mão por entre meus cabelos
 toda essa tensão
 todo esse tesão/
 reajo
 fujo
mas há aquele imã/
que me puxa
me joga em você
por cima de você,
 por baixo de você/
 Por um momento até é amor
n’outro não.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

um passo a frente e você


as vezes eu imagino uma confusão. um amontoado de mim. numa parede. num canto. atrás de mim não há mais nada. se foi. já esqueci. a frente apenas coragem. se é pra seguir só, pois que seja então, não solidão! o coração quer enganar, fazer sorrir, distrair. não há pra onde fugir.  um dia vou sentar no banco da biblioteca. vou olhar para o céu. e quando minha mão, como de costume, buscar a sua, vou finalmente perceber que você se foi.
uma lagrima virá.
será real.

ps.: tempos de letras minúsculas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mistério do Planeta







"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto"



sábado, 8 de setembro de 2012

Amar-elar


pelo teto
o tempo passa
 a amarelar

as aranhas tecem teias
teias infinitas
amarelar

tudo envelhece
ao dispor do tempo
a amarelar

a roupa perde a cor
o batom perde a cor
a parede perde a cor

o meu coração
perde
a dor.

Marina B.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Dispenso cortesia hoje. 
Vou me permitir ser verdadeira, 
sem meias palavras.
Quero usar todas!
Sem pontos. 
Sem vírgulas. 
Deixar que a saliva seque 
Ah! Que o coração palpite. 
Vou arrancar todos os nós da garganta. 
Libertar minh'alma 
deixa-la leve, 
sem peso 
sem obrigação 
sem ser racional 
apenas fluindo. 
Sentindo. 
Vivendo. 


 (Marina B.)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Replay.

Era a noite mais fria do ano, pelo menos foi isso que a moça do tempo falou na TV. Mas eu não sentia frio. Meu corpo estava quente! Graças a uma garrafa de conhaque que bebi toda em 7 copos.7 copos!
Há 7 dias eu tinha encontrado um velho livro da Woolf, e muito mais que da primeira vez ele me tocou, uma semana passou e ele ainda puxava meu corpo pro fundo do rio; beber foi agradável, mesmo que rasgasse a cada gole a bebida ia deixando tudo mais interessante, dava pra ver o dia passar devagarzinho, sentir o gosto dele quando esteve em minhas mãos, minha pele sentia mais, dormente sentia muito mais, e tudo era mastigável.
Olhei no espelho e vi uma mancha vermelha na blusa, mas tanto faz, poderia a blusa estar encharcada que eu iria sair mesmo assim, a casa era confortável, mas a rua era tentadora.
Atrás do sofá sempre encontro uns trocados, dessa vez, além de migalhas achei um batom. Passei. Nunca uso batom, talvez até pudesse estar borrado.
Passo 7 vezes o batom.Tranco 7 vezes aporta.São 7 passos no corredor até a rua. Não sei se era a embriaguez, mas a lua estava provocante que quase propositalmente me levou ao chão, era um exorcismo.
Foram 7 quarteirões até me dar conta de que estava naquela praça, ao pé daquele banco, em frente àquela casa pintada do amarelo que escolhemos e hoje desbota no meio de pichações. O gosto do conhaque veio à boca, tão subitamente quanto as lembranças que me enchiam a cabeça e se misturavam com o álcool, o perfeito coquetel da estupidez, foi isso, eu sei que foi isso que me fez pensar em bater na porta. Mas o que diabos me levava a crer que você talvez quisesse me ver? Ou estivesse ainda só, a minha espera? Logo você tão gentil, tão acessível, tão engraçado, com aquele sorriso desalmado que ganha qualquer um, que sempre tem tudo e todos ao seu alcance, mesmo não querendo. Ai que estúpida fui pra bater naquela porta! Só pra te ver assim: FELIZ! Foram 7 segundos até eu arquitetar o plano de fuga: correr. Só ouvi meu nome uma única vez, um único grito e NENHUM passo, e NENHUM mínimo movimento. Senti no peito teu  olhar, tua barba feita, teu sorriso fácil, tua pele até mais corada, já que agora não tinha eu pra você se preocupar. E eu corria, entre tardes de domingo, Bertolucci, Hitchcock, garrafas, e eu corria pela discografia do Pink Floyd, Kundera, e eu corria com raiva de toda aquela felicidade. Parei. Jorrava algo dos meus olhos, por um segundo até poderiam ser lágrimas, mas era apenas a chuva de Setembro.

(Marina & Alba)

Ps.: conto já publicado no blog, só por que vale a pena ser relido.