Era a noite mais fria do ano, pelo menos foi isso que a moça do tempo falou na TV. Mas eu não sentia frio. Meu corpo estava quente! Graças a uma garrafa de conhaque que bebi toda em 7 copos.7 copos!
Há 7 dias eu tinha encontrado um velho livro da Woolf, e muito mais que da primeira vez ele me tocou, uma semana passou e ele ainda puxava meu corpo pro fundo do rio; beber foi agradável, mesmo que rasgasse a cada gole a bebida ia deixando tudo mais interessante, dava pra ver o dia passar devagarzinho, sentir o gosto dele quando esteve em minhas mãos, minha pele sentia mais, dormente sentia muito mais, e tudo era mastigável.
Olhei no espelho e vi uma mancha vermelha na blusa, mas tanto faz, poderia a blusa estar encharcada que eu iria sair mesmo assim, a casa era confortável, mas a rua era tentadora.
Atrás do sofá sempre encontro uns trocados, dessa vez, além de migalhas achei um batom. Passei. Nunca uso batom, talvez até pudesse estar borrado.
Passo 7 vezes o batom.Tranco 7 vezes aporta.São 7 passos no corredor até a rua. Não sei se era a embriaguez, mas a lua estava provocante que quase propositalmente me levou ao chão, era um exorcismo.
Foram 7 quarteirões até me dar conta de que estava naquela praça, ao pé daquele banco, em frente àquela casa pintada do amarelo que escolhemos e hoje desbota no meio de pichações. O gosto do conhaque veio à boca, tão subitamente quanto as lembranças que me enchiam a cabeça e se misturavam com o álcool, o perfeito coquetel da estupidez, foi isso, eu sei que foi isso que me fez pensar em bater na porta. Mas o que diabos me levava a crer que você talvez quisesse me ver? Ou estivesse ainda só, a minha espera? Logo você tão gentil, tão acessível, tão engraçado, com aquele sorriso desalmado que ganha qualquer um, que sempre tem tudo e todos ao seu alcance, mesmo não querendo. Ai que estúpida fui pra bater naquela porta! Só pra te ver assim: FELIZ! Foram 7 segundos até eu arquitetar o plano de fuga: correr. Só ouvi meu nome uma única vez, um único grito e NENHUM passo, e NENHUM mínimo movimento. Senti no peito teu olhar, tua barba feita, teu sorriso fácil, tua pele até mais corada, já que agora não tinha eu pra você se preocupar. E eu corria, entre tardes de domingo, Bertolucci, Hitchcock, garrafas, e eu corria pela discografia do Pink Floyd, Kundera, e eu corria com raiva de toda aquela felicidade. Parei. Jorrava algo dos meus olhos, por um segundo até poderiam ser lágrimas, mas era apenas a chuva de Setembro.
(Marina & Alba)
Ps.: conto já publicado no blog, só por que vale a pena ser relido.
Oô, a Mari voltou! \o/\o/\o/\o/\o/\o/\o/
ResponderExcluirhehe
Não sei quem é Alba, mas ja deu pra perceber q vcs formam uma ótima dupla. E, sabe, admiro muito pessoas q conseguem escrever a 4 mãos. Sempre fui tão incompetente pra isso...