quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mistério do Planeta







"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto"



sábado, 8 de setembro de 2012

Amar-elar


pelo teto
o tempo passa
 a amarelar

as aranhas tecem teias
teias infinitas
amarelar

tudo envelhece
ao dispor do tempo
a amarelar

a roupa perde a cor
o batom perde a cor
a parede perde a cor

o meu coração
perde
a dor.

Marina B.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Dispenso cortesia hoje. 
Vou me permitir ser verdadeira, 
sem meias palavras.
Quero usar todas!
Sem pontos. 
Sem vírgulas. 
Deixar que a saliva seque 
Ah! Que o coração palpite. 
Vou arrancar todos os nós da garganta. 
Libertar minh'alma 
deixa-la leve, 
sem peso 
sem obrigação 
sem ser racional 
apenas fluindo. 
Sentindo. 
Vivendo. 


 (Marina B.)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Replay.

Era a noite mais fria do ano, pelo menos foi isso que a moça do tempo falou na TV. Mas eu não sentia frio. Meu corpo estava quente! Graças a uma garrafa de conhaque que bebi toda em 7 copos.7 copos!
Há 7 dias eu tinha encontrado um velho livro da Woolf, e muito mais que da primeira vez ele me tocou, uma semana passou e ele ainda puxava meu corpo pro fundo do rio; beber foi agradável, mesmo que rasgasse a cada gole a bebida ia deixando tudo mais interessante, dava pra ver o dia passar devagarzinho, sentir o gosto dele quando esteve em minhas mãos, minha pele sentia mais, dormente sentia muito mais, e tudo era mastigável.
Olhei no espelho e vi uma mancha vermelha na blusa, mas tanto faz, poderia a blusa estar encharcada que eu iria sair mesmo assim, a casa era confortável, mas a rua era tentadora.
Atrás do sofá sempre encontro uns trocados, dessa vez, além de migalhas achei um batom. Passei. Nunca uso batom, talvez até pudesse estar borrado.
Passo 7 vezes o batom.Tranco 7 vezes aporta.São 7 passos no corredor até a rua. Não sei se era a embriaguez, mas a lua estava provocante que quase propositalmente me levou ao chão, era um exorcismo.
Foram 7 quarteirões até me dar conta de que estava naquela praça, ao pé daquele banco, em frente àquela casa pintada do amarelo que escolhemos e hoje desbota no meio de pichações. O gosto do conhaque veio à boca, tão subitamente quanto as lembranças que me enchiam a cabeça e se misturavam com o álcool, o perfeito coquetel da estupidez, foi isso, eu sei que foi isso que me fez pensar em bater na porta. Mas o que diabos me levava a crer que você talvez quisesse me ver? Ou estivesse ainda só, a minha espera? Logo você tão gentil, tão acessível, tão engraçado, com aquele sorriso desalmado que ganha qualquer um, que sempre tem tudo e todos ao seu alcance, mesmo não querendo. Ai que estúpida fui pra bater naquela porta! Só pra te ver assim: FELIZ! Foram 7 segundos até eu arquitetar o plano de fuga: correr. Só ouvi meu nome uma única vez, um único grito e NENHUM passo, e NENHUM mínimo movimento. Senti no peito teu  olhar, tua barba feita, teu sorriso fácil, tua pele até mais corada, já que agora não tinha eu pra você se preocupar. E eu corria, entre tardes de domingo, Bertolucci, Hitchcock, garrafas, e eu corria pela discografia do Pink Floyd, Kundera, e eu corria com raiva de toda aquela felicidade. Parei. Jorrava algo dos meus olhos, por um segundo até poderiam ser lágrimas, mas era apenas a chuva de Setembro.

(Marina & Alba)

Ps.: conto já publicado no blog, só por que vale a pena ser relido.