domingo, 6 de junho de 2010

Título



Ainda sujos, acendo o décimo cigarro.Você prefere o uísque que achou no fundo de um velho armário. Olhando para o teto, discutimos cinema, música, filosofia. Tento te convencer do anarquismo. Você me fala sobre almodovar. Acho que nem em dez anos te conheceria tão bem quanto te conheço agora. Nós dois, aqui, nesse quarto de hotel, parecendo dois marginais. Rindo do mundo. Rindo dos que pensam que são felizes. Rindo da fatalidade que é viver. Percorro teu corpo, afim de te encontrar. nos teus pulsos vejo as cicatrizes da tua história, marcas de quando ainda se podia ser inocente. Você se esconde em mim. Dentro de mim. Conto as horas em cada gota de suor que escorre do teu rosto. Nossos rostos. Nossas bocas. Nossos corpos. Nada nos pertence mais, fazemos parte de uma abstração do tempo, um sopro pincelado num quadro daqueles que você sempre gostou, e eu nunca dei tanto valor, me fecho em magritte. As horas continuam a passar em meio ao desejo. Desejo, posso senti-lo, posso até tocá-lo.Você sabe que eu gosto dessa jaqueta, você só a vestiu para me provocar, o seu hálito de uísque faz tanto efeito quanto o seu olhar, eu realmente poderia passar dias tentando desvendar o que existe por trás deles. Entre nós não existe MAIS e MENOS , ou pelo MENOS é isso que eu tento demonstrar enquanto rio das suas peripécias tão MAIS interessantes que as minhas. Sentada à beira da cama, percorro com os olhos o lençol de renda. Te fito. Sinto uma saudade do que ainda nem fizemos, do que ainda nem dissemos a me consumir, agora que você não é mais meu. Vou até a janela, garoa lá fora. Um frio me arrepia à espinha. Acendo o ultimo cigarro da carteira, tomo a ultima dose pra me manter aquecida. Tenho um longo caminho até chegar em casa. Até lá vou tentando esquecer a cota do dia de você.


(Alba Tereza & Marina Borges)

3 comentários:

  1. Just a perfect day
    problems all left alone
    Weekenders on our own
    it's such fun.

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  2. Meninas, ao que me consta, eu sou a leitora de nº 1000 e estou comentando. Sendo assim, quero um post só pra mim hahahahah. No mais, vcs mandaram bem no texto. Imaginei uma pessoa bem no "meu número", principalmente qdo li sobre a jaqueta e tal (bem no estilo daquele menino da psicologia que eu já mostrei pra vcs uma vez, lembram?). Beijos

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  3. Que bom que gostou. Às vezes escrever é como uma cela de prisão, por mais que você tente explicar, só consegue se fechar ainda mais.

    Uma mensagem de alento faz toda a diferença, pra sabermos que não estamos sozinhos, que não somos tão diferentes assim.

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