quarta-feira, 30 de junho de 2010

Isso aqui não é um diário...

Hoje quero falar sobre a minha semana:

Essa semana fiz mais trabalhos do que queria, por que como sempre, deixei pra ultima hora do ultimo dia. Essa semana dormi mal. Essa semana prometi levar mais à sério o meu curso, a faculdade, a minha vida. Essa semana me senti medíocre. Essa semana não bebi, não fui a nenhum bar, justamente pra não beber. Essa semana prometi a mim mesma que não iria mais beber.Essa semana recebi uma mensagem dele. Ele nem sabe, mas ainda gosto dele. Ainda me pego imaginando como seria se desse certo. Ainda me pego imaginando a casa de janelas azuis e o pé de manga aos fundos. Essa semana senti muito frio. Essa semana deixei o arroz queimar. Essa semana ele ainda insistiu em dizer que gosta de mim. Essa semana desejei que ele sumisse. Essa semana quis muito me apaixonar por alguém. Queria gostar mais de alguém do que gosto de mim mesma. Essa semana encontrei vários possiveis candidatos a pai dos meus filhos, daqueles que contariam sobre como era bom a época em que éramos jovens e iamos a shows de bandas alternativas, que diriam que na nossa época o mundo era mais seguro e as crianças mais inocentes, daqueles que colocaria as crianças pra dormir e me daria um beijo de boa noite. Essa semana me senti só. Essa semana conversei com pessoas muito mais inteligentes que eu. Essa semana ouvi uma musica da minha futura banda. Essa semana quis ligar pra ele. Essa semana senti ciúmes de alguém que eu não deveria sentir ciúmes. Essa semana tentei me convencer de que ainda não gosto dele e que sentir ciumes dele é portanto absurdo. Essa semana faltei o dentista. Essa semana senti dores nos pés. Essa semana perdi o ônibus e por isso fiquei uma hora a mais na parada. Essa semana dei o lugar a uma mulher com uma criança e me senti superior as outras pessoas-malvadas-que-não-dão-lugar do ônibus. Essa semana acertei um pergunta que o professor fez. Essa semana prestei atenção em uma aula inteira. Essa semana descobri que Radiohead faz muito mais sentido do que eu imaginava pra mim. Essa semana matei uma aula. Essa semana senti muito frio. Essa semana comi como deveria. Essa semana meu pai se comportou. Essa semana minha cachorra teve filhotes. Essa semana fiquei sem dinheiro. Essa semana quis falar eu te amo pra alguém. Essa semana chorei por dentro. Essa semana sorri mais que o normal. Essa semana senti saudades.Essa semana torci muito vendo futebol. Essa semana o Brasil jogou bem. Essa semana criei outro blog. Essa semana descobri The Whitest Boy Alive. Essa semana dancei na frente do espelho. Essa semana comi no RU. Essa semana fui ao show da Nação Zumbi e foi lindo. Essa semana senti muito frio.

sábado, 12 de junho de 2010

Fando e Lis




Brinquemos


- Se sou um grande pianista...

- Se és um grande pianista e te corto um braço. Que fazes?

- Me dedico a pintura.

- Se és um grande pintor e te corto outro braço. Que fazes?

- Me dedico a dança.

- Se és um grande dançarino e te corto as pernas. Que fazes?

- Me dedico ao canto.

- Se és um cantor e te corto a garganta. Que fazes?

- Se estou morto quero que com minha pele se fabrique um bonito tambor.

- E se eu queimo o tambor. Que fazes?

- Me transformo em uma nuvem que tome todas as formas.

- Se a nuvem se dissolve. Que fazes?

- Me converto em chuva e faço com que nasçam todas as guerras.

- Ganhaste... Sentirei-me muito só no dia em que não estejas.

- Se algum dia se sentir só, busca a maravilhosa cidade de Tar.




Tar

Houve uma vez, há muito tempo, uma cidade maravilhosa chamada Tar. Nessa época todas as nossas cidades estavam intactas. Não havia ruínas porque a guerra final ainda não tinha começado.

Quando aconteceu uma grande catástrofe: todas as cidades desapareceram. Menos Tar.

Tar ainda existe. Se souberes buscá-la, a encontrarás.

E quando chegares a Tar a gente te trará vinho e água e poderás brincar com uma caixa de música que tem manivela. Quando chegares a Tar ajudarás na colheita da uva e pegarás o escorpião que se oculta debaixo da pedra branca. Quando chegares a Tar conhecerás a eternidade e verás o pássaro que a cada cem anos bebe uma gota de água do oceano. Quando chegares a Tar compreenderás a vida e serás gato e fênix e cisne e elefante e criança e ancião e estarás só e acompanhado e amarás e serás amado e estarás aqui e lá e possuirás o selo dos selos.

E, na medida em que caias em direção ao futuro, sentirás que o êxtase te possui para não deixar-te mais.

Quando sua imagem se apagou do espelho, apareceu no vidro a palavra “liberdade”.


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P.s.: O texto em original é em espanhol, e foi retirado do filme Fando e Lis. Um filme mexicano do diretor Alejandro Jodorowsky.

P.s.²: Traduzido e indicado pela Amanda Apen. (valeu Amanda!)

P.s.³: Mais informações do filme clique aqui.

domingo, 6 de junho de 2010

Título



Ainda sujos, acendo o décimo cigarro.Você prefere o uísque que achou no fundo de um velho armário. Olhando para o teto, discutimos cinema, música, filosofia. Tento te convencer do anarquismo. Você me fala sobre almodovar. Acho que nem em dez anos te conheceria tão bem quanto te conheço agora. Nós dois, aqui, nesse quarto de hotel, parecendo dois marginais. Rindo do mundo. Rindo dos que pensam que são felizes. Rindo da fatalidade que é viver. Percorro teu corpo, afim de te encontrar. nos teus pulsos vejo as cicatrizes da tua história, marcas de quando ainda se podia ser inocente. Você se esconde em mim. Dentro de mim. Conto as horas em cada gota de suor que escorre do teu rosto. Nossos rostos. Nossas bocas. Nossos corpos. Nada nos pertence mais, fazemos parte de uma abstração do tempo, um sopro pincelado num quadro daqueles que você sempre gostou, e eu nunca dei tanto valor, me fecho em magritte. As horas continuam a passar em meio ao desejo. Desejo, posso senti-lo, posso até tocá-lo.Você sabe que eu gosto dessa jaqueta, você só a vestiu para me provocar, o seu hálito de uísque faz tanto efeito quanto o seu olhar, eu realmente poderia passar dias tentando desvendar o que existe por trás deles. Entre nós não existe MAIS e MENOS , ou pelo MENOS é isso que eu tento demonstrar enquanto rio das suas peripécias tão MAIS interessantes que as minhas. Sentada à beira da cama, percorro com os olhos o lençol de renda. Te fito. Sinto uma saudade do que ainda nem fizemos, do que ainda nem dissemos a me consumir, agora que você não é mais meu. Vou até a janela, garoa lá fora. Um frio me arrepia à espinha. Acendo o ultimo cigarro da carteira, tomo a ultima dose pra me manter aquecida. Tenho um longo caminho até chegar em casa. Até lá vou tentando esquecer a cota do dia de você.


(Alba Tereza & Marina Borges)